sábado, 15 de fevereiro de 2014

Pobre coitado

Então eu vi. Do corte de cabelo até os chinelos. Toda uma imagem que evita luxos.

Talvez não evite, esses são seus luxos. Poucos.

Os pés sujos denunciavam o tempo que estava na rua. A caixa na mão direita já quase vazia, anuviava uma realização simples. Um dever, que não deveria ser seu, cumprindo-se.

Quando olho, de baixo para cima, lembro que não tenho direito de julgar. Nem de reclamar. Mas posso imaginar a história que o levou até ali.

Olhos azuis e quase inocentes. Uma expressão mostra o sentimento de auto-sub-estima. 

Provável que aquele rosto fique tão vivo quando sorri que ilumine os desconhecidos. Mas eu só o vi sério e sem obstinação, apenas conformado.

Minha calça deve ter custado mais que aquele garoto conseguiu em um dia de trabalho. E ele parece ter certo receio de encarar as pessoas.

O digno de pena nessa cena sou eu mesmo. O observador que passou indiferente por outra vida. A verdade é que sinto vergonha de não poder ajudar.

Quando vi aquela caixa de doces que pagariam o alivio das dificuldades. Me senti burguês mesmo tendo pouco também. Me envergonhei de ter um pouco mais que alguém que luta para viver.

Essa visão me lembra outras trágicas que presenciei. Eu rogo, a quem quer que ouça um sem fé, para que ninguém veja beleza naquela tristeza. Oro para que não se aproximem os devassos do caminho que segui esse dia. Peço que ele chegue em casa sem cruzar com as perversidades do mundo.

Amém!

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